sábado, 30 de janeiro de 2016

Capacidade de se maravilhar

Em que ano, em que mês, em que dia, em que momento preciso é que perdemos as nossa infantil capacidade de nos maravilharmos com o mundo?
Em que momento é que acreditámos que espantarmo-nos era sinal de idiotice, e rir de asneira?
Quando nos lembramos da nossa infância – presumindo que tivemos uma infância dita normal o que é cada vez menos frequente a acreditar no que vemos todos os dias no telejornal – lembramo-nos exactamente da forma como ficávamos maravilhados por um bicho-de-conta, quando lhe tocávamos, se fechar numa bolinha que, com um piparote girava até encontrar um obstáculo. Ou como num dia as pereiras tinham os ramos completamente nus e no dia seguinte, no dia seguinte mesmo!, estavam completamente verdes e no outro dia ainda, brancas de flores.
Toda a gente conhece a história do Peter Pan, o menino que não queria crescer. Nunca me tinha ocorrido perguntar porquê, até ver o filme “ A Terra do Nunca” em que um Peter Pan, adulto e incrédulo, precisa de re-ganhar a capacidade de se maravilhar para conseguir salvar os filhos do malvado Capitão Gancho.
No meio tempo em que ele, ao escolher ficar para a vida com a Wendy, teve que crescer, teve que assumir responsabilidades, teve que estudar (digo eu) para poder ter um bom emprego e assim sustentar a sua família, teve que se tornar... sério.
O que não percebo é porque é que crescer quer dizer relegar para um lugar que poucas vezes visitamos, a aptidão para nos maravilharmos.
“Já nada me espanta” é uma frase que a partir dos... vá, 39 anos, se diz com um ar triunfante como se fosse um sinal de imaturidade possuir esse talento. Imaturo é agir como se a maturidade requeresse a perda do sentido do “maravilhamento”, um sentimento que produz um enorme bem estar, que beneficia a saúde, que nos predispõe para o bem e nos ajuda a encontrar força para enfrentar essa outra parte da realidade, tantas vezes angustiante.
Faz parte da arte de viver bem, aproveitar o melhor de tudo o que nos rodeia e o melhor da realidade, é o maravilhoso.
Há uns tempos tive um destes momentos, quase uma epifania: tinha estado a fazer “vela” no hospital e por volta das cinco e meia da manhã abri a persiana duma das janelas que dá para nascente. Fiquei absolutamente ma-ra-vi-lha-da, des-lum-bra-da, en-can-ta-da com o amanhecer. Impossível descrever. Foi o amanhecer mais bonito que já vi, mais bonito que qualquer pôr-do-sol tropical, tão bonito que ainda hoje me encontro maravilhada com aquela perfeição. Não, a palavra não é perfeição é totalidade!
Como diz Gilbert Keith Chesterton “O mundo nunca sofrerá com a falta de maravilhas, apenas com a falta de capacidade para se maravilhar.".

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

ANTES E DEPOIS

                          COMO  EU ERA 
QUANDO ACABEI 
O CURSO...





COMO SOU                   HOJE... ALGUMAS VEZES. 
                       

COMO É QUE ISTO ACONTECEU?

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

FARDAS E FARDAS




Na Escola onde tirei o curso (hoje diria na Faculdade porque os enfermeiros acabaram por ser doutores mas isso fica para uma próxima vez que para já não quero irritar o pessoal) a nossa farda era constituída por um bata por baixo do joelho, claro, um avental que dava a volta à nossa cintura, com um peitilho, sapatos brancos abotinados, casaco branco se estava frio e o inevitável “quépi”! Para a dignidade. Tudo isto mais o porte.
O porte era importantíssimo e eu apanhei que se farta por não ter o porte adequado (ainda hoje, sabe Deus...). Claro que o cabelo tinha que estar preso, de preferência num carrapito porque se fosse num rabo de cavalo podia, ainda assim, cair para cima do doente: As unhas cortadas rente, jamais pintadas de uma cor berrante, o máximo era um cremezinho claro que vai sempre bem com tudo (esta frase faz-me lembrar a minha amiga e enfermeira Isabel Costa Macedo. Onde andas???).
O avental saiu de cena quando comecei a trabalhar no hospital de S. José, mas tudo o resto manteve-se por muito tempo embora no hospital fossem mais permissivos no que diz respeito à cor das unhas.
Entretanto eu saí durante alguns anos para ser mãe a tempo inteiro e quando voltei, os sapatos e o casaco eram azuis-escuros, a saia tinha subido para cima dos joelhos, mas o “quepi” ainda era um sinal obrigatório de dignidade.
No meu caso, como fui directamente para o bloco operatório, ficava guardado num cacifo para quando precisasse de sair do BO, para almoçar por exemplo.

Aqui as coisas mudaram muito. Quando eu saí, as enfermeiras ainda se vestiam como qualquer outra, bata branca, sapatos brancos... nem touca usavam acreditam? Os médicos operavam com a mesma bata com que andavam o dia todo, e punham luvas mais porque – estou convencida – para se protegerem a si próprios das bactérias dos doentes do que para proteger os doentes dos vírus que transportavam dum lado para o outro. E assim se vivia – ou morria – alegremente.
Agora, as regras de assepsia e esterilização eram a ordem do dia e o bloco passou a ser um local fechado onde só entrava quem estivesse devidamente fardado. Por farda entenda-se umas calças de elástico na cintura e uma túnica de enfiar pela cabeça e corte direito. E em vez do “quépi” agora era obrigatório usar uma touca para que nenhum cabelo se atrevesse a assomar.
As cores deste fardamento variavam de hospital para hospital e podiam ser todas menos encarnado. Eu gostava do amarelo ou do verde água, mas o verde pano-de-mesa-de-jogo ganhou fama e agora é o que se usa em quase todo o lado.
Até inventarem uma coisa chamada tecido-não tecido.
Segundo a Wikipédia o tecido não tecido, é um tecido classificado como um não tecido (entenderam?). É produzido a partir de fibras desorientadas que são aglomeradas e fixadas, não passando pelos processos têxteis mais comuns que são fiação e tecelagem (ou malharia). No caso da lã, o TNT produzido chama-se feltro.
O feitio dos fatos deste tecido não tecido, é o mesmo mas são descartáveis. Vestimo-los e no fim do dia caixote do lixo com eles.
Já quanto às toucas,temos um problema: ficam-nos pessimamente! E, como a ideia é segurarem o nosso maravilhoso cabelo dentro delas, não nos deixam mostrar as madeixas que custam tanto dinheiro a fazer em qualquer cabeleireiro decente!
Mas a maior parte dos frequentadores dos BO amenizou o problema comprando umas toucas de tecido estampado à escolha e que ficam assim como aqueles lenços que as camponesas usavam nos anos cinquenta. Até se apertam atrás, no pescoço como os tais lenços. A questão é que, com essas toucas, no fim do dia o cabelo está todo acachapado. Isto pode ser bom para quem tem um cabelo volumoso, mas para quem o tem liso como eu, é péssimo. 
Por outro lado, quem tiver uma franja tipo Beatriz Costa, o melhor é esquecer o bloco. No fim dum turno com a franja metida dentro duma touca ela estará espetada para cima e impenteável. Falo por experiência própria. Logo eu que ficava tão bem de franja, tive que a deixar crescer e mudar para um penteado que, modéstia à parte, não me fica, de todo, tão bem.

Entretanto "lá fora" a farda também evoluiu: finalmente alguém percebeu que com o vestidinho branco, debruçarmo-nos para passar um doente da cadeira para a cama ou quando saltamos para cima da cama dum doente para lhe fazer massagem cardíaca, por exemplo, o botão de baixo corre sérios riscos de rebentar, a saia sobe pernas acima, e ficamos numa figureta no mínimo... enfim, não admira que as enfermeiras sejam retratadas em todo o lado com um símbolo sexual: de mini saia, decote até ao umbigo deixando ver um soutien encarnado a dar com o batom.
Isso acabou meus senhores! Agora a farda dos enfermeiros e das enfermeiras é igual! Calças e túnica brancas. "Quépi" fora que só atrapalha, mas...  o elástico para agarrar o cabelo ainda dava jeito, escusávamos de atirar cabelos para cima dos doentes enquanto se faz o penso, ou se posiciona um doente, como eu vejo tantas vezes, agora. E há elásticos tão giros... toda uma gama de tranças que são mais obras de arte que penteados, e ganchos baratíssimos nos chineses! É uma ideia... 

Mas esta coisa das fardas tem mais que se lhe diga embora isso fique para o próximo post, que este já vai muito longo.


sábado, 23 de janeiro de 2016

Pedido De Ajuda 1 (Porque Vai Haver Mais...)




Olhem para a configuração do meu blog (clique no link).
Do lado direito temháum "separador" que diz "as minhas fotografias". Passa, em slides, fotografias que até são bonitas, mas não são é minhas. Quando tento formatar a coisa de maneira a pôr lá fotografias realmente minhas, vou dar a uma página que me pergunta se tenho outra fonte de fotografias  (sim) e qual é o URL. O que é isso do URL??? Não dá para ser simples e arrastar apenas uma data de fotografias para esse separador? Ficava mesmo agradecida a quem souber e me disser como é.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Caspa nas Pestanas


Foi numa cirurgia de oftalmologia. Uma cirurgia delicada mas calma. 
A conversa - porque, para quem só desconfia, pode ficar com a certeza que há conversas numa sala de operações que não tem nada a ver com o que se está a passar na marquesa operatória - também era tranquila.
E como as conversas são como as cerejas e uma coisa leva a outra, alguém falou em caspa. Dentro do género sala de operações, é uma conversa bastante inócua, às vezes falamos de coisas bem mais nojentas. De maneira que desenvolvemos o tema durante um bocado: quem tinha caspa, que tipo de caspa, se a caspa aparecia por se lavar demais a cabeça ou pelo contrario, por lavar de menos. Que influência têm "os nervos" no aparecimento da caspa, ou se algum ahampoo pode ser a sua causa dela. Passámos ao de leve pelos tratamentos possíveis e eis que de repente, sem o menor sinal de aviso, alguém larga a bomba: "... A capa das pestanas, essa sim é muito complicada de tratar...".

Parei. Hirta. Gelada.

CASPA NAS PESTANAS??? HÁ CASPA NAS PESTANAS NOS SERES HUMANOS? (ou já agora em qualquer outro ser vivo?)

Só podiam estar a gozar comigo!

Mas não estavam. Sabiam desta matéria, o oftalmologista, a instrumentista e, ainda que com menos minúcia, o anestesista. Ou seja, todos menos eu, por isso continuei a duvidar que estivessem a falar a sério. Só acreditei quando o oftalmologia me explicou que a coisa não era exactamente caspa. PARECIA caspa, mas era um ácaro que se enfia nos folículos capilares das pestanas chamado Demodex folicorum...
Ainda desconfiada de que esse bicho existia,fui ver à internet que me encaminhou para um vídeo no YouTube..
Afinal preferia não ter aprofundado o assunto e ficar com a ideia simples que há pessoas que, coitadas, têm caspa nas pestanas!

Conselho: o filme do you tube contém imagens eventualmente chocantes, por isso se for do tipo enojado,não vá espreitar.

P.S. desde esse dia ando a fazer um inquérito entre os "meus pares" e nunca ninguém ouviu falar do assunto. Uff!

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

Acordar bem disposta... pode?


Tenho um telemóvel novo que substitui grande parte das coisas que eu costumava ter comigo: agenda, relógio, bloco de notas, canetas, as fotografias da família, a máquina de calcular, revistas e jornais, computador - um pesadelo - e até mesmo os livros - outro item muito pesado - se me atrever a ler algum ebook naquele ecrã tão pequeno.
Desde que o tenho, ando basicamente com o porta-moedas onde tenho os documentos e o dinheiro (às vezes), um lápis de contorno dos olhos, as chaves e o telemóvel. Ainda paro muitas vezes à porta de casa a pensar se não me falta nada, tão leve que me sinto.
Uma das funcionalidades do meu telemóvel é o despertador. Sim, o outro - gama baixa e sem internet - também tinha despertador mas as músicas eram muito limitadas e normalmente eu acordava com um bzzzz exasperante.
Agora eu é que escolhi a música que toca, uma guitarrada linda do Carlos Paredes.
Na minha boa-fé, achei que, naqueles dias em que tenho que estar no hospital logo de manhãzinha, conseguiria levantar-me bem-disposta.
Achei mal.
O que me acontece é que acordo igualmente irritada com a ideia de sair do meu casulo mas passo o dia inteiro a cantarolar a música que me despertou! Se calha a trabalhar o dia todo com a mesma pessoa, acabamos a jornada com ela a garantir-me que se eu abro a boca para cantar mais uma nota, corro o risco de não sair inteira do hospital! (contra-senso?)
Adorava ser daquelas pessoas - como na fotografia à esquerda - que acordam já a sorrir, sem uma única ramela nos olhos ou um cabelo fora do lugar, se espreguiçam sensualmente, levantam-se como se fosse a coisa que mais lhes apetece na vida, vestem um roupão de seda até aos pés que lhes ondula à volta das pernas enquanto se dirigem para a casa de banho, donde saem prontas para enfrentar os desafios do dia, com um entusiasmo enervante.
Mesmo à segunda feira!!
Pergunta: Mas elas existem, essas pessoas ou esta fotografia foi tirada com o único intuito de nos deprimir, a nós mortais comuns?

PARA JÁ


Não, não é porque não tenha emprego. Também não é porque não quero emigrar (acabei de voltar, aliás). E sim, se eu quisesse um emprego "a sério" teria muito boas hipóteses de o conseguir, até porque a minha situação laboral é de licença sem vencimento no Estado o que tem algumas vantagens mas também desvantagens. Não consigo, por exemplo, concorrer ao fundo de desemprego mesmo que o Estado me dissesse que tinha o quadro completo e por isso não precisava de mim, o que podia acontecer.
Aconteceu com uma colega minha que pediu uma licença sem vencimento para acompanhar o marido numa missão militar e quando voltou.. quadro completo!Esteve aí uns dois anos à espera que abrissem vagas até pôr o hospital em tribunal e partir para exercer a profissão noutro hospital. Cá para mim quem ficou a perder foi o nosso uma vez que ela é uma excelente profissional. Portanto sou uma enfermeira a dias por opção. Ser uma enfermeira a dias quer dizer que trabalho num hospital quando o hospital precisa de mim e ganho à hora.
Não é mau.
Não é bem pago claro, mas também não me ocupa o tempo todo.
O que me permite escrever por exemplo este blog. Todas as pessoas que eu conheço que têm blogs, tudo o que eu li sobre o assunto na internet (ando a estudá-lo há uma semana!)me dizem que para se escrever um blog, que há que "postar" regularmente para se ter muitos seguidores. Ou seja, disciplina (arrepia-me esta palavra). E este é o problema. Para o resolver fiz uma viagem de introspecção e percebi que quanto mais tenho que fazer, mais faço! Por isso, 1- arranjei umas amigas que querem que eu lhes faça a comunicação da empresa delas na internet, promova o FB, escreva no site sobre um assunto (o delas) de que não percebo nada mas vou perceber e 2 - arranjei outra amiga que é pintora e não se sabe vender. Vou ser "curadora" dela (devo dizer que fiquei encantada com o título), ou seja vou promover o trabalho dela, organizar-lhe as exposições que vou ser eu a arranjar, vou tratar do site e do FB dela e não a vou deixar dar um passo ou vender um desenho sem que ela ganhe algum, uma coisa a que ela não está habituada. Prevejo algumas discussões...
Portanto vou ser obrigada a organizar-me de maneira a fazer tudo isto no intervalo dos meus horários no hospital, e de caminho tratar deste blog e doutros que são promessas de ano novo. Sem contar com a minha casa. Marido. Filho (já só tenho um em casa). Almoço/dia Jantar/dia. Pão, manteiga, leite, café 2 x/dia. Todos os dias. Roupa. 3x/semana. Limpeza 2x/semana e SOS que esta coisa de limpezas todos os dias nos afecta as nossas defesas.
E agora, que escrevi tudo isto percebi que se calhar não vou ter tempo para tudo... que preciso de muita, muita disciplina! Já estou com o estômago colado às costas. Admito: o meu marido tem razão: eu vivo a arranjar lenha para me queimar!

domingo, 17 de janeiro de 2016