quinta-feira, 21 de abril de 2016

AS MIL E UMA MANEIRAS DE PEDIR UM CAFÉ

Não deve haver muitas coisas que tenham tantas e tão variadas formas de se pedir como o café. Basta sentarmo-nos numa esplanada ou à mesa de um café —  casa comercial onde servem cafés, bagaços e bolos e que também costuma ter cigarros mas agora, com esta febre não fumadora que se apossou do mundo, algumas deixaram de ter — e ir ouvindo a maneira como as pessoas o pedem.
Parece-lhe que, à partida, parece que este é um tema simples e consensual?
Não é.
Tal como muitas outras coisas que nos parecem lineares e, um dia, descobrimos que são mais complicadas do que à primeira vista dão a entender, pedir um café e ser entendido pela pessoa que nos atende, é uma ciência. Não é nada fácil aprendê-la e pô-la em prática e, sobretudo, não é qualquer um que pode estar atrás dum balcão a servir cafés. Se por acaso isso acontece, no fim, vai-se a ver e a casa comercial foi à falência, muito por culpa do mau desempenho dos empregados...
Para que isto não aconteça, antes de se passar alguém para trás de um balcão, há que investir na sua formação, palavra que, para além de estar na moda, dá outro status ao estabelecimento.
Além disso, com sorte, ele ainda há por aí um subsidiozito da Europa, esquecido em qualquer gaveta, é uma questão de se perguntar às pessoas certas e a tal formação sai-lhe de graça ou, na melhor das hipóteses ainda lhe pagam por cima!  
Ora imagine-se a dizer:
— Abri este café após me ter formado, com distinção, no curso «As Diversas Maneiras De Pedir Um Café e Ser Correctamente Atendido». Tive a melhor nota de 2016!
Lindo, não é?
Ou:
— Este meu empregado não é qualquer um... é formado em cafés e chás das melhores procedências!
Não é nada preocupante se o seu empregado ou você, como dono do café, trocar os grãos do cafés propriamente ditos, ou seja, se em vez da mistura de cinquenta e três por cento Brasil e quarenta e sete Quénia, der outra qualquer, tipo: vinte e dois por cento Tanzânia, sessenta e seis São Tomé e doze Venezuela.
A maior parte das pessoas tem o céu da boca de lata – como dizia o meu pai – e não vai dar por nada.
Basta fazer um ar convicto que elas engolem o café que lhes saiu na rifa com um sorriso conhecedor e no fim ainda dão estalinhos com a língua e comentam para quem as quiser ouvir: “Isto sim, é um bom café!” 
O que, isso sim, é imperdoável, é não saber traduzir as mais diversas formas de um português de gema lhe pedir um café!
Um português de gema tanto pode ser de Trás os Montes como do Baixo Alentejo, entenda-se. Agora, vá um lisboeta ao Porto e peça uma bica! Algum portuense percebe que o que queremos é um café? Não. E mesmo que saibam perfeitamente o que queremos dizer, aqueles bairristas fazem-se de mulas: Tal como em Roma temos que ser romanos, no Porto temos que ser portuenses... eles estão no seu direito. Nós, os mouros do sul, também não temos que saber que, quando um deles nos pede um simbalino, o que ele está a pedir é apenas e só um café.
Mas não é necessário andar pelo país fora para recolher maneiras de pedir um café. Eis algumas maneiras que eu coligi nos vários cafés do meu próprio bairro:
Uma bica,
Um café.
Um cafézinho,
Uma bica,
Um café expresso,
(Até aqui tudo bem)
Um café cheio,
Um café pouco cheio,
Um café meio cheio,
... Desculpe... não tão cheio!
Curto,
Comprido,
Um café em chávena fria,
Um café  em chávena aquecida – quer dizer bufada pelo vapor, percebi ao ouvir este pedido. Estava convencida que as chávenas em que se servem os cafés estão normalmente quentes... mas não,
Uma italiana,
Um carioca,
Um descafeinado
Um descafé,
Um dêcá... (se me pedissem um descafeinado desta maneira eu punha a mão na anca e perguntava logo: dê cá o quê? E depois era despedida...),
Um café pingado,
Um café baptizado,
Um café sem princípio,
Um abatanado (não faço ideia do que é isto!),
e o tal simbólico.
Depois há os mais finos, estrangeiros.
Um capuchino
Um irish coffee.
Isto já para não falar de cafés com leite que são outra fonte de inspiração:
Café com leite escuro... mais moreno...
Café com leite, claro...
Uma meia de leite...
Um galão...
Um garoto...
...
Tenho ou não razão?
Às tantas um curso de formação é para os mais expeditos... para os outros, menos... inteligentes, digamos,  pode ser que sejam precisos mais alguns cursos e mais intensivos.
É o que eu acho.


Até logo.

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