sábado, 27 de fevereiro de 2016

O Medo de Ser Testemunha

Aqui há uns tempos parei o meu carro numa rua estreita de Lisboa. Fui jantar e quando voltei o toda a estrutura do espelho e o próprio espelho  estavam em cacos espalhado pela rua. Apanhei os cacos já a chorar o dinheiro que iria gastar para arranjar aquela balhana e eis senão quando um rapaz de camisola de alças vem ter comigo e me diz que viu quem tinha batido no carro - uma carrinha Mercedes -  e que tinha tirado a matrícula.
É possível saber de quem é o carro pela matricula sabiam?, por isso fui saber. 
Quando tinha a informação toda (e acreditam que eu conheço o dono?)  incluindo o seguro do mercedes, pus a minha companhia de seguros a falar com a dele. Informação do lado de lá: o meu segurado afirma que não bateu em espelho nenhum de carro nenhum, em nenhuma rua de Lisboa. 
Irritada - e mais irritada porque, sabendo quem é a pessoa, achei que ele tinha OBRIGAÇÃO moral de ser honesto - fui ter com o tal simpático rapaz da camisola de alças. Bati à porta e deparei-me com uma mulher de mãos na anca que me disse taxativamente que "o meu filho não vai ser testemunha de ninguém, era o que faltava, ter trabalho por uma pessoa que não conhece de lado nenhuma e a mim já me aconteceu o mesmo e ninguém foi capaz de ser minha testemunha por isso agora eu também não sou testemunha de ninguém, meter-me em coisas com a polícia, nem pense nisso!"
Submergida por aquela catadupa de palavras quis explicar-lhe que só queria falar com o filho (reparem, o filho devia ter aí uns 27 anos) que não queria que ELA fosse minha testemunha... 
Com o pé calçado com uma chinela a travar a porta de casa que dava directamente para a rua, voltou a dizer que nem pensar em ser testemunha de coisa nenhuma e que aliás o filho nem estava em casa e se eu pensava que ela lhe daria o recado estava muito enganada!
Ainda pensei fazer uma espera ao rapaz da camisola de alças, mas acabei por concluir que ela teria muito mais influencia nele que eu, uma vez que foi ele que o educou e eu não saberia inculcar-lhe numa curta conversa, valores como honestidade, ajuda ao próximo etc. 
Também pensei em telefonar ao dono do carro - estive com o telefone na mão - mas desisti. Se lhe telefonasse era para o insultar, e não me apetecia bater-boca com o homem. 
De maneira que fui, por fazer, queixa à polícia, sabendo de antemão que sem testemunha não iria conseguir nada. 
Conto toda esta história porque não percebo porque é que as pessoa não querem ser testemunhas. Em muitas conversas sobre o tema, percebi que é muito complicado arranjar testemunhas neste tipo de situação. 
Uma das explicações em que pensei é que dá trabalho. Bem, de facto não dá: é preencher um papel ou, no limite ir a tribunal afirmar o que vimos o que implica que o nosso patrão tem que nos dar as horas em que estamos a prestar declarações e entretanto se pode beber um cafezinho, olhar para umas montras... enfim, esticar um bocadinho a corda. 
A outra explicação é o medo. 
Mas porque é que as pessoas têm medo de ser testemunhas? Porque implica "conviver"  com a polícia? Sim, mas não somos nós, testemunhas, que estamos no banco dos réus a ser acusados de ter morto alguém... Será porque temos um medo quase "atávico" dos agentes da autoridade que nos foi sugestionado em crianças: "olha que vem aí a polícia e prende-te!" "Olha que se não comes a sopa eu chamo a polícia e eles levam-te!" Mesmo quando brincamos aos polícias e ladrões preferimos sempre ser os ladrões... 
A polícia tem de facto uma má imagem, são sempre aqueles que nos param porque estamos a guiar e a falar ao telemóvel ao mesmo tempo, porque ultrapassámos a velocidade permitida ou porque querem que sopremos para balões e nem sempre o podemos fazer de consciência tranquila. E se eu tenho uma má relação com a polícia! Podia desenvolver aqui o assunto mas seria longo demais por isso contento-me em dizer que não há vez nenhuma em que me mandem parar que não acabemos de candeias às avessas. 
Os polícias são os maus da fita SEMPRE! É outra incógnita na minha cabeça, uma vez que, apesar de tudo, são eles que nos protegem dos ladrões,  assassinos, torturados, psicopatas, terroristas e por aí fora!
Por isso ter medo de ser testemunha por "medo", desconforto vá, dos agentes da autoridade não faz muito sentido. 



Pergunta: então porque é que as pessoas se recusam a ajudar os outros sendo suas testemunhas??

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Remédio Santo!


Meias e Tupperwares

Dias de folga no hospital. Dias de lida em casa porque eu eu ainda sou da geração em que tenho que refilar com o meu marido para ele me ajudar a pôr a mesa. E na lida da casa há alguns mistérios que aposto que nunca nenhuma dona de casa conseguiu ainda resolver. Uma dessas coisas é o emparelhamento. Há duas coisas em casa que nunca conseguimos emparelhar. Sim, uma delas são as meias! Ainda ninguém me explicou como é que é possível que estendamos a secar as meias emparelhadas e que quando as vamos dobrar, falte invariavelmente alguma! Há um bruxedo qualquer nas meias, que o há,  mas não só!
Há-o igualmente nas tampas dos tupperwares! E este caso é mais estranho ainda.
Ora vejamos: quando os compramos TODOS têm tampa, certo? Então porque é que seis meses depois há tampas ou tupperwares a mais? Ok, se fossem só tupperwares a mais e as tampas tivessem inadvertidamente, ido para o lixo como qualquer colher de café que se preze, sempre tinham alguma explicação. Mas tampas A MAIS?? Deitar para o lixo os tupperwares sem dar por isso parece-me inconcebível. E irritante!
E mágico... e se não é que haja alguém que me explique o que é que acontece com o emparcelamento das meias e dos tupperwares!

domingo, 21 de fevereiro de 2016

Semana da ironia

A semana passada publiquei posts sinistros. Até ranjo os dentes ao pensar que aqueles instrumentos eram usados a frio, sem qualquer espécie de anestesia que não fosse uma valente bebedeira é um trapo entre os dentes. Por isso esta semana o ambiente será mais leve. Muito mais leve, prometo! Lá vai o primeiro:

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Na Prática a Teoria é Outra.


Na escola - ups, faculdade - aprendemos a fazer as camas de hospital com os cantos em triângulo (olhem eles aí)
Não sei quem os inventou, o que sei é que se o doente está acamado não passa um quarto de hora que não tenha os lençóis todos amarfanhados debaixo dele. Não acham irritante perder tempo a fazer - e a ensinar a fazer - triângulos quando o problema se resolve com nós nos lençóis? Esticadinhos que é uma beleza!
Pois... Na prática a teoria é outra.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

A vida era tão diferente o ano passado nesta altura…

Vi esta frase na internet e escrevi-a numa parede de minha casa, como aliás muitas outras que gostei, escolhidas entre tantas que eu gostava que também estivessem registadas para me lembrar delas, mas para as quais não tenho paredes suficientes.
“A vida era tão diferente no ano passado nesta altura”, fez-me muito – tanto – sentido!
No dia 9 de Fevereiro do ano passado a minha vida era tão diferente do que é hoje, apenas um ano depois! E se andar para trás, e tentar lembrar-me do dia 9 de Fevereiro, nos anos anteriores, 2014, 2013, 2012... a vida mudou sempre tanto, dum ano para o outro! Para melhor umas vezes, para pior outras, mas nunca ficou igual.
E estou ainda a tentar perceber o que é que esta frase faz soar em mim.
Quem muda somos nós, “que somos cada dia um pouco mais de nós mesmos” (Ton Silvas)? Ou é o que nos rodeia que, ao mudar, nos obriga a acompanhar a mudança? Uma coisa do tipo acção-reacção-acção…
Não cheguei a nenhuma conclusão. Ou se calhar não consego traduzir em palavras o que sinto.
Mas de facto, nem todas as coisas precisam de ter um sentido racional. Podem apenas fazer sentido “cá dentro” naquele lugar que não é emoção nem pensamento mas qualquer coisa no meio dos dois.
Ou não fazer sentido nenhum!
Outra frase que escrevi na minha parede foi “Eu nunca fui daqueles que fazem sentido.”
Vou praticar esta frase.

Criticas?


terça-feira, 9 de fevereiro de 2016


Também quero este negócio!!


Apanha ar com rede e vende-o por 100 euros


Um empresário britânico está vender frascos de "puro ar campestre inglês" à elite de Hong Kong e Xangai, pelo preço de 80 libras (103 euros) por unidade


Com a poluição a afetar a qualidade de vida das grandes cidades chinesas, Leo De Watts adaptou a ideia da água engarrafada para passar a ser um empresário de "ar em frascos".
"Quando alguém decidiu engarrafar água foi ridicularizado, mas agora temos a Evian e a Volvic, por não engarrafar ar?", pergunta o empresário ao jornal britânico "Telegraph".
Para colher o produto, a sua equipa atravessa um campo com o frasco numa rede e depois deixa-o aberto durante dez minutos para "captar o aroma da área". Watts garante que o produto final é diferente se o ar for recolhido em Dorset (mais perto do mar) ou em Yorkshire (com mais flora).
A ideia não é completamente inovadora, há uma empresa canadiana que vende ar dos Montanhas Rochosas para a Ásia, mas a Aether é a líder britânica do negócio.
Até ao momento, o empreendedor de 27 anos já vendeu 180 frascos de 580 mililitros.

JN | 05/02/2016
http://www.jn.pt/PaginaInicial/Mundo/Interior.aspx?content_id=5017678&page=-1

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2016

As profissões mais desejadas, quando somos crianças são normalmente maquinistas, bombeiros, médicos, enfermeiros, professores. Alguma criança mais precoce quer ser, vá, engenheira eletrotécnica. Tenho um sobrinho que tudo o que queria quando fosse grande era ter uma pasta para poder, como o pai, sair de casa de manhã e entrar em casa à noite com a dita na mão, sem precisar de fazer nada entretanto. E outro que queria ir para tio, uma profissão muito pretendida entre género feminino nos dias de hoje, se bem que os requisitos sejam maiores e mais árduos do que em qualquer curso de qualquer universidade que eu conheça. Nacional ou internacional.
Mas voltando ao assunto deste post, a maior parte das pessoas que eu conheço sabia perfeitamente o que queria ser quando crescesse.
Já eu parecia um cata-vento: se brincávamos aos médicos queria ter uma profissão ligada à saúde, se íamos de comboio para Lisboa, ser maquinista parecia-me perfeito. Lembro-me dum incendio que houve em Sintra, tão grande que de dia as colunas de fumo se viam da varanda lá de casa e à noite se via o clarão do fogo(vivíamos em Sassoeiros- Carcavelos) e as pessoas faziam cabazes em que o leite era indispensável, para levar aos bombeiros que arriscavam a vida a apagar aquele braseiro; durante esses dias dramáticos achei que ser bombeira era exactamente o que eu queria. Não, não apenas bombeira, mas uma bombeira heroína!
Pensando bem servia-me qualquer profissão em que eu pudesse ser heroína!
Na altura certa, a minha mãe mandou-me a um psicólogo fazer testes de orientação profissional. Esqueci-me de levar os óculos porque estava naquela fase em que as raparigas que usavam óculos eram feias e eu além de heroína também queria ser gira, de maneira que houve alguns testes daqueles que têm bolas dentro de quadrados até ao infinitamente pequeno, que tive uma enorme dificuldade em descodificar e acho que de alguma forma falseei os resultados.
Seja como for, quando tive que ir falar com a psicóloga que viu os meus testes, ainda não tinha fechado a porta já estava a apanhar um raspanete. Que eu era uma preguiçosa, que andava a brincar com tudo e todos e que se deixasse de ser cábula e preguiçosa deveria seguir Engenharia Química – engenharia química?? O que é isso? – se não podia escolher entre Medicina e Direito.
Boa. Não é que me tenha ajudado muito mas omo não fazia ideia do que uma engenheira química fazia, restava-me a Medicina e o Direito sendo que ainda por cima, pelos vistos, podia continuar a ser cábula e preguiçosa. Tão preguiçosa que, quando chegou 1974 e o sistema educação português se emaranhou todo, com os alunos a fazerem RGAs por tudo e por nada, e a explicarem aos professores que agora sim, temos liberdade e nós é que mandamos, era o que faltava termos que aprender coisas que não nos servem para nada na vida prática ou teórica, eu andava nas minhas sete quintas. E assim andei até ao fim do ano seguinte, ano em que acabei o liceu.
Só que agora, em vez de fazermos exames de admissão à faculdade tínhamos um ano propedêutico o que achei francamente despropositado. Fiz o liceu todo na expectativa de no final do sétimo ano – actual 11ª - acabar com aquilo e seguir para a faculdade.
Ainda hoje não faço ideia do que é um ano propedêutico, porque não o fiz. Tenho alguma vergonha de confessar que tive preguiça de ir ao liceu saber o que é que era para fazer, na esperança que a bagunça acalmasse e no ano seguinte pudesse concorrer à faculdade normalmente. Mas não. No ano seguinte inventaram um tal de serviço cívico, duas palavras que me fazem lembrar os prisioneiros cuja pena se reduz se fizerem trabalho para a comunidade. Obviamente não estava para aí virada, mas os meus pais também não estavam para ter em casa uma teenager a roçar-se nos sofás ano após ano, de maneira que me mandaram trabalhar como ajudante de educadora num centro ATL. Já estava no ATL há pelo menos um ano quando, um dia, fui almoçar a casa dos primos da tia Bebé, onde estava também a prima João, da tia Isabel, que tinha acabado de se formar em enfermagem. Não faço ideia porquê, estavam todos muito preocupados com o que é que eu pretendia fazer com a minha vida profissional. De repente a João olhou de lado para mim e disse: Estou a ver-te como enfermeira... porque é que não tiras o curso de enfermagem?
E foi assim que, por causa da minha preguiça, eu me tornei numa heroína!

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2016

Preciso de uma massagem!

7 horas.
Abro os olhos cheia de sono, levanto-me a custo, muito custo, arrasto-me até à casa de banho na esperança que um duche me faça sentir melhor – o que não acontece – visto-me e tomo um café apressado. Pego na carteira, às vezes verifico se as chaves do carro estão lá, estão, boa, visto o casaco e saio de casa já completamente acordada mas só porque olhei para o relógio e verifiquei que neste cambaleio matinal, demorei mais do que era suposto, por isso já estou atrasada. O carro está... ah já sei, lá vou, abro a porta, sento-me e meto a mão na carteira para tirar o telemóvel e pô-lo a jeito, não vá ele decidir tocar, o que a esta hora da manhã é altamente improvável, mas serve para perceber que me esqueci dele em casa. Saio do carro, fecho a porta, corro para casa, abro a porta e páro... Onde é que raio é que eu deixei o telemóvel? Quarto, não, cozinha, não, casa de banho... ainda não... sala! Cá está ele.
Saio outra vez a correr, meto-me no carro e guio que nem uma louca a ver se chego a uma hora mais ou menos decente ao hospital onde ainda me espera o drama de estacionar o carro. O que me vale é que já há pessoas que estiveram de vela a sair - o que por outro lado me dá a medida do meu atraso – e depois de duas voltas ao hospital descobri um lugar. O corredor para o bloco é intermínável e com esta correria e a descarga de adrenalina correspondente, já estou a suar, sendo que hoje é dia 5 de Janeiro e previa-se 10 graus de temperatura máxima. Vestiários. Quê?, já cá não está ninguém??? Estou assim tão atrasada, gaita?? Volto a remexer na carteira à procura da chave do meu caçifo que está junta com as chaves de casa. Porque é que eu meto tantas coisas dentro destas carteiras enormes, coisas que não uso 99% dos dia, como um amaciador de cutículas ou um isqueiro, agora que deixei de fumar?? Enquanto me dispo e me visto com aqueles trapos verdes sem feitio que não favorecem ninguém, juro a mim mesma que vou passar a usar aquelas carteiras minusculas que só têm espaço para o cartão de cidadão e um telemóvel (se não for o Iphone 6), calço as minhas socas que pintei às florzinhas num dia de menos movimento, com corrector branco e marcadores de várias cores para que ninguém tenha a veleidade de as calçar “porque não reparei que eram as tuas”, enfio a touca cabeça abaixo, respiro fundo e salto o murete que separa a zona desinfectada da infectada ou seja toda aquela que está para trás do dito murete.
Cheguei.Pé ante pé, agora é tentar que não dêem por mim, ou pelo menos que achem que estive a tratar de qualquer coisa urgente e inadiável que tenha a ver com um doente da manhã, e por isso é que não me apresentei, ainda, na reunião de passagem de turno...
Impraticável.
Enquanto mais uma vez “oiço” – com razão, eu sei – penso que agora o que eu gostava mesmo era de uma massagem, para relaxar.

Cenas dos próximos capítulos: Já na sala de operações