segunda-feira, 25 de abril de 2016

O ATORMENTADOR



Um destes dias, em conversa, um amigo disse que "...o problema do Carlos é ter um atormentador..." Sem perceber o que é que ele queria dizer com isso, perguntei-lhe o que era um "atormentador". "É um conceito que eu aprendi com o meu pai: ele ensinou-nos que, na nossa vida, não podíamos deixar que houvesse um atormentador. Que é obviamente alguém que nos atormenta e que nós deixamos que nos atormente ao não esquecermos o que nos fez. E se é assim, passamos muito do nosso precioso tempo, grande parte da nossa vida, a pensar nele. A sentirmo-nos vítimas, a odiá-lo, a congeminar a forma de nos vingarmos do tormento por que ele nos faz/fez passar. A atormentar-nos!" 

Nunca tinha pensado nisto, mas faz-me todo o sentido. Quantas vezes deixamos que haja um "atormentador" que faz com que a nossa vida gire à sua volta? Que faz com que cá dentro, naquele ponto mesmo abaixo do esterno, haja um ponto de fogo que faz doer?
Quando somos agredidos, seja de que maneira for, é evidente que ficamos sentidos. Quem não sente não é filho de boa gente. Mas há um tempo para sofrermos com a agressão, mesmo que ela tenha sido grave.
Num tempo que, claro, cada um sabe qual é, sofremos, fazemos o luto, e seguimos em frente.
Tem que ser. Não só porque enquanto estivermos ligados ao passado, não conseguimos viver o futuro, como também, e principalmente, porque se não conseguirmos desligar-nos, estamos a dar ao nosso "atormentador", poder. PODER sobre nós e sobre a nossa vida.

domingo, 24 de abril de 2016

SEGREDOS

Esta foi uma semana em que não aconteceu nada. Quer dizer, aconteceu, mas é segredo. Proibiram-me de dizer uma palavra que fosse sobre o assunto. Por isso eu não posso dizer nada. Não é que não me apeteça. Apetece. Quando temos coisas boas - ou que podem vir a ser boas - para dizer, ficamos em pulgas para as contar, não é? Eu pelo menos fico! Só que não posso dizer nada porque disse que não dizia. Assim, eis-me aqui mortinha por contar tudo acerca da minha vida e a ter que ficar calada.
A partilhar com os desgraçados dos meus leitores esta angústia, para que eles também fiquem um bocadinho irritados por eu não dizer aquilo que aconteceu esta semana e de que eu não posso falar. Porque, desenganem-se se pensam que eu vou contar o que quer que seja. Não vou. Eu sou boa a guardar segredos, mesmo que queira muito contá-los.
Pode ser que para a semana possa dizer-lhes alguma coisa....
Até logo.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

AS MIL E UMA MANEIRAS DE PEDIR UM CAFÉ

Não deve haver muitas coisas que tenham tantas e tão variadas formas de se pedir como o café. Basta sentarmo-nos numa esplanada ou à mesa de um café —  casa comercial onde servem cafés, bagaços e bolos e que também costuma ter cigarros mas agora, com esta febre não fumadora que se apossou do mundo, algumas deixaram de ter — e ir ouvindo a maneira como as pessoas o pedem.
Parece-lhe que, à partida, parece que este é um tema simples e consensual?
Não é.
Tal como muitas outras coisas que nos parecem lineares e, um dia, descobrimos que são mais complicadas do que à primeira vista dão a entender, pedir um café e ser entendido pela pessoa que nos atende, é uma ciência. Não é nada fácil aprendê-la e pô-la em prática e, sobretudo, não é qualquer um que pode estar atrás dum balcão a servir cafés. Se por acaso isso acontece, no fim, vai-se a ver e a casa comercial foi à falência, muito por culpa do mau desempenho dos empregados...
Para que isto não aconteça, antes de se passar alguém para trás de um balcão, há que investir na sua formação, palavra que, para além de estar na moda, dá outro status ao estabelecimento.
Além disso, com sorte, ele ainda há por aí um subsidiozito da Europa, esquecido em qualquer gaveta, é uma questão de se perguntar às pessoas certas e a tal formação sai-lhe de graça ou, na melhor das hipóteses ainda lhe pagam por cima!  
Ora imagine-se a dizer:
— Abri este café após me ter formado, com distinção, no curso «As Diversas Maneiras De Pedir Um Café e Ser Correctamente Atendido». Tive a melhor nota de 2016!
Lindo, não é?
Ou:
— Este meu empregado não é qualquer um... é formado em cafés e chás das melhores procedências!
Não é nada preocupante se o seu empregado ou você, como dono do café, trocar os grãos do cafés propriamente ditos, ou seja, se em vez da mistura de cinquenta e três por cento Brasil e quarenta e sete Quénia, der outra qualquer, tipo: vinte e dois por cento Tanzânia, sessenta e seis São Tomé e doze Venezuela.
A maior parte das pessoas tem o céu da boca de lata – como dizia o meu pai – e não vai dar por nada.
Basta fazer um ar convicto que elas engolem o café que lhes saiu na rifa com um sorriso conhecedor e no fim ainda dão estalinhos com a língua e comentam para quem as quiser ouvir: “Isto sim, é um bom café!” 
O que, isso sim, é imperdoável, é não saber traduzir as mais diversas formas de um português de gema lhe pedir um café!
Um português de gema tanto pode ser de Trás os Montes como do Baixo Alentejo, entenda-se. Agora, vá um lisboeta ao Porto e peça uma bica! Algum portuense percebe que o que queremos é um café? Não. E mesmo que saibam perfeitamente o que queremos dizer, aqueles bairristas fazem-se de mulas: Tal como em Roma temos que ser romanos, no Porto temos que ser portuenses... eles estão no seu direito. Nós, os mouros do sul, também não temos que saber que, quando um deles nos pede um simbalino, o que ele está a pedir é apenas e só um café.
Mas não é necessário andar pelo país fora para recolher maneiras de pedir um café. Eis algumas maneiras que eu coligi nos vários cafés do meu próprio bairro:
Uma bica,
Um café.
Um cafézinho,
Uma bica,
Um café expresso,
(Até aqui tudo bem)
Um café cheio,
Um café pouco cheio,
Um café meio cheio,
... Desculpe... não tão cheio!
Curto,
Comprido,
Um café em chávena fria,
Um café  em chávena aquecida – quer dizer bufada pelo vapor, percebi ao ouvir este pedido. Estava convencida que as chávenas em que se servem os cafés estão normalmente quentes... mas não,
Uma italiana,
Um carioca,
Um descafeinado
Um descafé,
Um dêcá... (se me pedissem um descafeinado desta maneira eu punha a mão na anca e perguntava logo: dê cá o quê? E depois era despedida...),
Um café pingado,
Um café baptizado,
Um café sem princípio,
Um abatanado (não faço ideia do que é isto!),
e o tal simbólico.
Depois há os mais finos, estrangeiros.
Um capuchino
Um irish coffee.
Isto já para não falar de cafés com leite que são outra fonte de inspiração:
Café com leite escuro... mais moreno...
Café com leite, claro...
Uma meia de leite...
Um galão...
Um garoto...
...
Tenho ou não razão?
Às tantas um curso de formação é para os mais expeditos... para os outros, menos... inteligentes, digamos,  pode ser que sejam precisos mais alguns cursos e mais intensivos.
É o que eu acho.


Até logo.

quarta-feira, 20 de abril de 2016

AS MINHAS CRÓNICAS

Há uns anos, e durante uns anos, escrevi semanalmente para a Olá Semanário, umas crónicas que só tinham a ver comigo. Quer dizer, escrevia sobre o que me apetecia, que é, na minha opinião, a única e mais divertida maneira de se escrever. Tanto podia ser sobre qualquer coisa que tinha acontecido em minha casa e com algum membro da minha família - como quando escrevi sobre a relação estreita dos mosquitos com o meu marido -, como sobre alguma ideia mais ou menos metafísica que me ocorria no momento. Ocorriam-me muitas, nessa altura, pressionada pela Dulce Varela, a directora da Olá Semanário (Saudades, Dulce) que queria sempre as crónicas para ontem.
Uma das que mais gostei de escrever já a transcrevi aqui: É o post de dia 9 de Abril que tem como título "Projectos". Estou absolutamente convencida que poucas pessoas o entenderam e pensaram mesmo nunca mais "porem os pés" neste blog. Compreendo-as. Eu própria o faria, no vosso lugar. 
Mas na altura andava irritada com alguns iluminados, pessoas muito inteligentes e cultas que são incapazes de ler o que o comum dos mortais tem prazer em ler, e escrevem em consonância, ou seja, coisas que ninguém entende. Assim escrevi aquela crónica para experimentar como era ser como eles. Deu-me um trabalhão, não julguem que não! Quem é que sabe o que são formas "puerpro-centradas"?? Felizmente, nessa mesma altura estava a fazer uma formação no hospital e um dos prelectores falava assim. Foi uma sorte, porque ao mesmo tempo que ia ouvindo o que ele dizia, ia escrevendo todas as palavras ou expressões caras que ele ia dizendo e pedindo explicações sobre as mesmas, o que, também percebi, irrita quem tem que descer ao nosso nível, para nos explicar coisas que são absolutamente óbvias.
Devo confessar ainda outra coisa: aquela crónica deu-me imenso jeito quando fiz o meu complemento(1), porque a primeira coisa que nos pediram foi para escrever um artigo sobre o que quiséssemos. Acontece que no primeiro dia, na primeira aula, eu tive uma acesa troca de palavras – uma discussão (2), para ser franca – com o professor, sobre o assunto: “a inconveniência e a estopada de ter que ouvir palavras, expressões, frases inteiras ininteligíveis, sabe-se lá porquê e para quê, uma vez que ninguém as percebe” .
Com uma ou outra modificação para parecer uma coisa muito séria, apresentei o “artigo” que tive que provar ter sido eu própria a escrever, uma vez que o professor não acreditou nisso (3).
Portanto, apesar de ter chegado à conclusão que ser como os intelectuais não era, de todo em todo, a minha vocação, escrever aquele artigo foi divertido e deu-me jeito.
Outra crónica que gostei muito de escrever foi sobre as mil e uma maneiras de pedir um café. Que as há. E esse sim, é um post que toda a gente vai perceber. 
Mas como este já vai longo e a noite já não é uma criança, isso fica para amanhã.
Assim como assim, posso usar algumas estratégias  para deixar os meus “caros leitores” com água na boca...
Até logo.


(1) Para quem não é “da arte”, o complemento foi um ano em que os enfermeiros tiveram que voltar para a escola para passarem de bacharelados a licenciados.

(2)  Esta discussão valeu-me a amizade incondicional de todos os meus colegas que também não estavam a perceber patavina do que era suposto estar a ser-nos ensinado.

(3)  Devo dizer que nos fim do complemento, ele e eu éramos os maiores amigos! Acontece-me muito: primeiro pego-me com as pessoas e ao fim de algum tempo, somos unha com carne.

sexta-feira, 15 de abril de 2016

Mulheres



Elas sorriem quando querem gritar
Elas cantam quando querem chorar
Elas coram quando estão felizes
E riem quando estão nervosas

Elas brigam por aquilo em que acreditam
Elas levantam-se para a injustiça
elas não levam "não" como resposta quando
acreditam haver uma melhor solução

Elas andam sem sapatos novos
para suas crianças poderem tê-los
Elas vão ao médico com uma amiga assustada
Elas amam incondicionalmente

Elas choram quando suas crianças adoecem
e se alegram quando suas crianças ganham prémios.
Elas ficam contentes quando ouvem sobre
um aniversário ou um novo casamento.

Pablo Neruda
http://avossemnos.wix.com/avossemnos

Para continuar bem a semana

what else?

sábado, 9 de abril de 2016

Projectos

A interdisciplinaridade de que a sociedade vem dando mostras, configurando relações participativas, o reforço do processo de sociabilização dos diversos actores intervenientes em cada sector da nossa vida, pressupõe a consciencialização, o dinamismo do inter-relacionamento, a discussão dos caminhos, e a persecução dos objectivos tendo em conta, a componente motivacional, assim como o desenvolvimento sócio-moral, que se vai repercutir neste todo holistico,
potenciando assim os resultados em vista.
Um dos principais motivos da crise em que o mundo dos dias de hoje se vê mergulhado, consiste na incapacidade de mobilizar as virtualidades criativas das pessoas, porquanto se continua a fazer um apelo ao aumento da qualificação sem ter em conta que não é apenas ao valorizarmos uma formação reprodutora em que a comunicação só tem um único sentido, bloqueando os receptores, que se conseguem ultrapassar as dificuldades do presente.
Em termos da realidade do trabalho, a sociedade actual é caracterizada pela ocorrência de consideráveis modificações económicas e sociais; novos perfis profissionais não baseados na valorização conjuntural de competências relacionais adequadas aos novos cenários de incerteza, instabilidade e imprevisibilidade, não serão de forma alguma a solução.
Mas não basta termos a intenção de transformar qualquer coisa em realidade; é necessário que haja um propósito, um desejo concreto para que possamos dar corpo a esse projecto. É através dum projecto de vida que o Homem tem capacidade de se compreender e realizar em toda a sua plenitude. Como já Jean Paul Sarte dizia: «O homem só tem uma maneira de viver: através dum projecto», já que um projecto pode regular a nossa caminhada na busca da auto-realização, concretizando uma vida que vale a pena ser vivida e sendo assim uma determinante imediata da acção.
Um projecto revela um grau de maturidade estratégico-pedagógica e é sempre um instrumento metodológico, quiçá bi-etápico, que nos permite enfrentar os desafios com as nossas competências específicas.
Permite-nos ainda a tomada de responsabilidade no nosso próprio processo de formação e desenvolvimento sem que tenhamos a tentação de resvalar para formas magister ou, pelo contrário, puerpero-centradas que nos conduziriam a um reducionismo arcaico, mormente quando se configuram relações inter-disciplinares. É algo que se constrói, não que se reproduz, algo que arquitecta novos saberes, plurifacetados alicerçados em bases científicas e tomando em conta todas as variáveis em jogo.
Tomando nas nossas mãos a responsabilidade do nosso próprio projecto de auto-formação e desenvolvimento, fomentando a criatividade de auto-regulação, mais no sentido da flexibilidade do que da especificidade, teremos a capacidade de nos mentalizarmos das nossas necessidades e da forma como nos inter-relacionamos com os outros e com o mundo em geral e passar da intenção à acção.
E a intenção não é mais que o desejo. Não o desejo cego, que não passa pelo crivo da análise crítica, mas o desejo de construção de algo maior.
E se é o desejo/inspiração que dá sentido á acção, e por sua vez a acção que concretiza o desejo/inspiração. E o projecto é simplesmente a ligação entre a acção e a inspiração.
Para terminar, cito o que Platão diz sobre um tema ainda actual: «aquele que apenas executa os projectos concebidos por outros, é apenas um escravo»




Quem Canta seu Mal Espanta

O problema é que há por aí tanta gente desafinada! se começassem a cantar as coisas ainda iam ficar piores!



sexta-feira, 8 de abril de 2016

quinta-feira, 7 de abril de 2016

Reparem no cuidado com que ela compõe a sua "dignidade".
Nesta altura sim, tínhamos dignidade! Agora, sem "quépi"... para onde foi ela? Será que foi mis uma coisa que nos roubaram?

terça-feira, 5 de abril de 2016

IMPULSE...


E de repente, no meio de Nova Iorque (where else) quando o marinheiro soube que a guerra tinha acabado agarrou na primeira pessoa (desconhecida) que lhe apareceu e... ofereceu-lhe um beijo Foi Impulse, com certeza!
Teve sorte, digo eu, porque apanhou uma enfermeira... olha se lhe calha um jogador de basquete?? Provavelmente teria precisado duma enfermeira. sim, mas para lhe fazer massagem cardíaca ou respiração boca a boca... o que pensando bem, ia a dar no mesmo...