segunda-feira, 25 de abril de 2016

O ATORMENTADOR



Um destes dias, em conversa, um amigo disse que "...o problema do Carlos é ter um atormentador..." Sem perceber o que é que ele queria dizer com isso, perguntei-lhe o que era um "atormentador". "É um conceito que eu aprendi com o meu pai: ele ensinou-nos que, na nossa vida, não podíamos deixar que houvesse um atormentador. Que é obviamente alguém que nos atormenta e que nós deixamos que nos atormente ao não esquecermos o que nos fez. E se é assim, passamos muito do nosso precioso tempo, grande parte da nossa vida, a pensar nele. A sentirmo-nos vítimas, a odiá-lo, a congeminar a forma de nos vingarmos do tormento por que ele nos faz/fez passar. A atormentar-nos!" 

Nunca tinha pensado nisto, mas faz-me todo o sentido. Quantas vezes deixamos que haja um "atormentador" que faz com que a nossa vida gire à sua volta? Que faz com que cá dentro, naquele ponto mesmo abaixo do esterno, haja um ponto de fogo que faz doer?
Quando somos agredidos, seja de que maneira for, é evidente que ficamos sentidos. Quem não sente não é filho de boa gente. Mas há um tempo para sofrermos com a agressão, mesmo que ela tenha sido grave.
Num tempo que, claro, cada um sabe qual é, sofremos, fazemos o luto, e seguimos em frente.
Tem que ser. Não só porque enquanto estivermos ligados ao passado, não conseguimos viver o futuro, como também, e principalmente, porque se não conseguirmos desligar-nos, estamos a dar ao nosso "atormentador", poder. PODER sobre nós e sobre a nossa vida.

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